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Resistências seguram movimentos de alta?

Análise Técnica básica já ensina: Suportes e Resistências são regiões de possíveis reversões de preços e tendência. Mas será que realmente são na prática?

Muitas vezes estou acompanhando uma ação em tendência de alta aguardando uma correção para fazer uma compra. Porém observando em momentos anteriores do gráfico (meses ou anos), frequentemente noto uma região de resistência importante. A dúvida que fica é: Vale a pena comprar nesse preço atual mesmo com a zona de resistência logo a frente, ou é melhor esperar para ver se os preços primeiro passam dessa zona para depois buscar outro ponto de compra?

O objetivo desse estudo é justamente responder essa questão, ver a força que uma resistência antiga faz numa tendência de alta atual. Uma resistência antiga significa uma REGIÃO de resistência/topo(s) numa tendência de alta ou baixa anterior, com pelo menos 6 meses para trás. O objetivo não é ver a força de resistências da própria tendência atual, pois seria quase sempre o topo anterior. Como o intuito da validação é para position trade, utilizarei o gráfico semanal nas análises gráficas.

Como ações blue chips em geral tem tendências mais truncadas e correções em mais momentos, e por não serem minhas preferências para minha estratégia pois geralmente não são fogueteiras, fiz uma seleção de ações small e mid cap baseado no volume médio de hoje (R$1M a R$100M de volume diário em novembro/2022).

 

Estudo de resistência

Para realizar esse estudo, vou dividir o comportamento dos preços em tendência de alta ao chegar na região de resistência em 3 acontecimentos:
1) Preço ignora a resistência e continua a subir
2) Faz uma pequena correção (até em torno de 10%) e continua a subir
3) Faz uma correção média ou grande ou reverte a tendência para baixa

Nas reações 1 e 2, valeria a pena uma compra antes da resistência, pois muito provavelmente não atingiria o stop inicial. Já com uma reação 3 atingiria o stop inicial e não valeria a pena.

Para considerar a reação ao chegar na resistência, será considerado uma ZONA de resistência e não uma linha no preço exato. Essa zona seria algo em torno de 5% acima e abaixo da linha. Também há ocasiões com candles erráticos com movimentos únicos de sombra superior que parece fazer mais sentido um pouco abaixo da máxima, em regiões com outras máximas em preços próximos. Também precisamos lembrar que os gráficos são ajustados por proventos. Juntando que análise técnica não é uma ciência exata, então o conceito de região de resistência é importante para essa análise. Não vou colocar todas as resistências possíveis para não ficar muito poluído, vou colocar as mais relevantes que eu vir.

Vou traçar no gráfico linhas em verde para a reação 1, amarela para a 2 e vermelha para a 3. Pelos motivos já explicados, há uma certa subjetividade na análise, mas acredito que ainda sim terá um resultado significativo.

Abaixo os gráficos de todas as ações envolvidas. Na sequência farei um resumo do resultado e as estatísticas.

ABCB4:

AESB3:

AGRO3:

ALPA4:

ALSO3:

ALUP11:

AMAR3:

ANIM3:

AURE3:

BPAN4:

BRSR6:

CPFE3:

CPLE6:

CSMG3:

DIRR3:

DXCO3:

ECOR3:

EGIE3:

EMBR3:

ENAT3:

ENBR3:

ETER3:

EVEN3:

EZTC3:

FESA4:

FLRY3:

GRND3:

GUAR3:

HBOR3:

JHSF3:

KLBN4:

LAND3:

LEVE3:

LOGN3:

MDIA3:

MILS3:

MOVI3:

MYPK3:

ODPV3:

PARD3:

POMO4:

POSI3:

PSSA3:

PTBL3:

QUAL3:

RAPT4:

ROMI3:

SANB11:

SAPR11:

SEER3:

SHUL4:

SIMH3:

SLCE3:

SMTO3:

SQIA3:

SULA11:

TASA4:

TCSA3:

TECN3:

TGMA3:

TPIS3:

TRPL4:

TUPY3:

UGPA3:

UNIP6:

VLID3:

WIZS3:

YDUQ3:

Agora vamos ver a quantidade de vezes que o preço teve cada reação ao se deparar com uma zona de resistência, separado por algumas categorias.

A contabilidade é por toque na linha (zona) de resistência, portanto uma linha vermelha por exemplo, pode ter tido 2 toques, portanto será contabilizado como 2.

Os toques não são por candle, são por grupo de candles. Se o preço ao chegar numa zona de resistência fizer uma leve correção e uma congestão de vários candles, será contabilizado somente 1. Para contabilizar mais que 1 toque, o preço tem que reverter mais que 10% para então fazer novo toque, ou seja, será outro movimento de alta.

Toques em topos duplos em tendência de alta não serão contabilizados, pois o objetivo desse estudo não é mensurar a força de resistências feitas pela própria tendência de alta, e sim resistências anteriores/históricas. Apesar de topos duplos ou congestões de baixa/média amplitude terem o traço acima dos topos, é só para melhor visualização gráfica de uma resistência.

Relembrando a cor para cada comportamento dos preços ao chegar na região de resistência:
1) Verde = Preço ignora a resistência e continua a subir
2) Amarelo = Faz uma pequena correção (até em torno de 10%) e continua a subir
3) Vermelho = Faz uma correção média ou grande ou reverte a tendência para baixa

Todas as resistências

Reação Qtde %
Verde 124 22%
Amarelo 164 28%
Vermelho 284 50%

Resistências de topos principais

Somente resistências de topos principais, excluindo as de topos formados no meio das tendências de baixa.

Reação Qtde %
Verde 57 24%
Amarelo 60 26%
Vermelho 118 50%

Todas as resistências – somente primeiro toque

Nessa estatística só é contabilizado o primeiro toque na resistência, os demais na mesma zona de preço são ignorados.

Reação Qtde %
Verde 102 22%
Amarelo 135 29%
Vermelho 229 49%

Resistências de topos principais – somente primeiro toque

Reação Qtde %
Verde 42 23%
Amarelo 50 27%
Vermelho 92 50%

O primeiro ponto a observar é que nos 4 tipos análises, o percentual para cada reação foi praticamente igual, ou seja, não faz diferença a situação da resistência, a probabilidade do acontecimento a esperar é a mesma.

Comentando então dos dados da primeira tabela que é a mais completa, a quantidade de vezes que o preço passa direto pela resistência é de somente 22%, e portanto em 78% das vezes o preço terá alguma reação de reversão ou correção pequena.

Em 50% das vezes o preço irá cair mais forte ou médio, e nas outras 50% a resistência não apresentará muita ou nenhuma resistência, de modo a fluir mais tranquilamente continuando a tendência de alta. Isso quer dizer que uma compra próxima a uma resistência tem aproximadamente 50% de chances do stop inicial do trade ser atingido. Já no caso da compra ter sido num preço mais abaixo e já estiver usando o stop móvel (Stop ATR) para ir subindo o stop, as chances de tomar stop seriam menores que os 50% uma vez que fica numa média de 20% abaixo do preço e suportam uma correção média.

Um valor de 50% é relevante em termos de probabilidade de acontecer, mas ao mesmo tempo não é um número alto como 70-80% que demonstraria que resistências são como barreiras quase impenetráveis e muito relevantes.

 

Estudo de resistência reversa

Nesse estudo farei o oposto do primeiro. Eu analisarei tendências de alta, selecionando as correções médias ou fortes e reversões de tendência, que seriam as linhas vermelhas do primeiro estudo. Para cada correção/reversão dessas, eu checarei se havia ou não uma resistência antiga nos arredores do preço, de forma a tentar chegar numa conclusão se resistências influenciam os preços ou não. Só serão analisadas tendências onde haja preço histórico no mesmo nível para fazer sentido o estudo, quando a tendência estiver fazendo topos históricos ela será ignorada.

Vou traçar no gráfico linhas em rosa para correções ocorridas em região de resistência e azul para correções onde não havia zona de resistência.

Abaixo os gráficos de todas as ações envolvidas e na sequência o resumo do resultado.

AALR3:

ABCB4:

AESB3:

ALPA4:

ALSO3:

ALUP11:

AMAR3:

ANIM3:

AURE3:

BKBR3:

BMGB4:

BOAS3:

BPAN4:

BRPR3:

BRSR6:

CEAB3:

CPLE6:

CSMG3:

CSUD3:

CVCB3:

DIRR3:

DXCO3:

ECOR3:

ELMD3:

EMBR3:

ENAT3:

ENBR3:

ETER3:

EVEN3:

EZTC3:

FESA4:

FHER3:

FLRY3:

FRAS3:

GFSA3:

GRND3:

GUAR3:

HBOR3:

JHSF3:

KEPL3:

KLBN4:

LAND3:

LEVE3:

LOGN3:

MEAL3:

MILS3:

MYPK3:

OIBR4:

PARD3:

POMO4:

POSI3:

PSSA3:

PTBL3:

QUAL3:

RAPT4:

ROMI3:

SANB11:

SBFG3:

SEER3:

SIMH3:

SLCE3:

SMTO3:

SQIA3:

STBP3:

SULA11:

TASA4:

TCSA3:

TECN3:

TGMA3:

TPIS3:

TRIS3:

TRPL4:

TUPY3:

UGPA3:

UNIP6:

VIVA3:

VIVR3:

VLID3:

VULC3:

WIZS3:

YDUQ3:

Fazendo a contagem das linhas rosa e azul temos:

Correção Qtde %
Rosa 217 50,6%
Azul 212 49,4%

Temos um empate técnico, 50% para cada. Metade das correções médias ou fortes e reversões de tendência ocorreu em cima de uma zona de resistência antiga, na outra metade ocorreu longe de uma resistência (-+5%).

 

Estudo de operações

Como complemento aos estudos gráficos acima, fiz um estudo de todas minhas operações históricas reais.

Agrupei as que tiveram lucro (>5%) ou prejuízo (<-5%), e se tinha resistência logo a frente ou não. Os resultados foram:

Das entradas que tinha resistência logo a frente, 45% deram lucro e 55% prejuízo, o que representa uma métrica até superior de um trend following clássico. Das que não tinha resistência a frente, por incrível que pareça, 36% deram lucro e 64% prejuízo! Isso é o oposto ao esperado, que seria melhorar a assertividade onde não há resistência a frente.

Das operações que deram lucro, 64% não tinham resistência a frente e 36% tinham. Das operações que deram prejuízo, 72% não tinham resistência a frente e 28% tinham.

Das operações que deram lucro superiores a 100%, 47% não tinham resistência a frente e 53% tinham. Das operações que deram lucro entre 40% e 100%, 67% não tinham resistência a frente e 33% tinham. O que mostra que os maiores lucros são feitos em retomadas de alta, após tempos de quedas nos preços, e não em ações rompendo topo histórico onde não há resistências a frente.

No total, 69% das compras não tinham resistência a frente e 31% tinham.

Fiz também uma análise por tempo baseado há quantos anos ocorreu a resistência em questão. Segue os resultados, com o percentual de operações no lucro e prejuízo para cada tempo:

Tempo Lucro Prejuízo
até 1 ano 43% 57%
entre 1 e 2 anos 64% 36%
entre 2 e 3 anos 0% 100%
entre 3 e 5 anos 50% 50%
entre 5 e 7 anos 50% 50%
mais que 7 anos 57% 43%

Com exceção de uma anomalia da terceira linha, essa estatística não mostra algo relevante na minha opinião. As 3 primeiras linhas alternam os resultados e depois fica em torno dos 50% para cada. Portanto a princípio não muda significativamente quão perto ou longe ocorreu o topo que gerou a zona de resistência.

 

Conclusão

No estudo 1, que analisa o efeito de uma resistência quando os preços chegam na sua região, e no estudo 2, que analisa se uma correção/reversão tem a causa em uma resistência, sendo um contrário do outro, demonstram exatamente a mesma probabilidade de suposto efeito que uma resistência causa nos preços, 50%.

50% é uma probabilidade de aleatoriedade entre 2 opções: resistência causa correção – Sim ou Não, correção é causada por resistência – Sim ou Não, da mesma forma que adivinhar cara e coroa uma moeda. Para não ser aleatório, deveria ter um valor diferente, por exemplo 70% de probabilidade de afetar os preços, dessa forma mostrando a força de uma determinada faixa de preços no futuro.

No estudo 3 com trades reais, vemos maior probabilidade de lucro quando há resistência logo a frente do que quando não há, e ligeira maior probabilidade de ganhos altos acima de 100% quando há resistência logo a frente.

Portanto a conclusão que eu chego através dos estudos para position trade nos gráficos semanais é: Resistências NÃO seguram os movimentos de alta com relevância, estatisticamente são nada mais que pontos aleatórios no gráfico, podendo afetar o preço ou não na mesma proporção, da mesma forma que o preço poderia ser afetado ou não também na mesma proporção se não houvesse nenhuma resistência.

Abraços e boas tendências!

Rodrigo Sibin Lichti

Obs: As informações colocadas aqui são simplesmente meus registros pessoais, não são recomendações de investimentos para outras pessoas. Não sou profissional certificado de investimentos e não posso orientar nenhuma pessoa a comprar ou vender determinado ativo. Os comentários e respostas para os leitores são simplesmente trocas de idéias entre investidores.

Categorias:Aprendizado, Artigos
  1. Avatar de Julio
    Julio
    18 de novembro de 2022 às 20:15

    Eu acho que entrar num rompimento tem mais um efeito psicológico de curto prazo, de iniciar um movimento no lucro, do que realmente garantir um resultado positivo para a operação. Um ponto que me deixou em dúvida foi se você não teria que ter analisado a saída do trade. Talvez os resultados foram mais impactos pela saída e não necessariamente a entrada. Por fim, é por isso que pretendo utilizar o próprio ranque como entrada do que um eventual rompimento. Ainda não iniciei o uso da estratégia pq o cenário é de alta dos juros, no Brasil e fora, de forma que acho que o risco-retorno, devido ao cenário macro, não compensa.

    • 18 de novembro de 2022 às 21:50

      Fala Julio!

      Eu vejo entrada em rompimento como maior probabilidade de acerto, visto que um movimento de correção pode ter diversas amplitudes e é difícil acertar a retomada propriamente. Se for uma correção maior, será stopado pela provável compra no meio. Se for uma correção pequena provavelmente ficará de fora. E o rompimento é um indicativo gráfico de continuidade da tendência, demonstrando otimismo dos participantes. Tanto em operações reais quanto em backtests, as operações de rompimento tem uma taxa de acerto maior do que de correções.

      Sobre a saída do trade, o objetivo do artigo não foi analisar um setup específico, para isso eu fiz backtests dos meus setups em milhares de variações, inclusive muitos stop móveis e configurações diferentes, nesses testes estão inclusos as reversões de preços em todas ocasiões. Para testar o efeito de resistências em saídas seria muito mais complexo, pois elas variam muito em cada setup, por percentual, volatilidade, cálculo matemático, etc. E para determinar o lucro nessas saídas, teria que saber as entradas. Então o objetivo desse estudo foi analisar somente a força e influência das resistências passadas nos preços atuais em tendência de alta, para ter uma base para as entradas.

      O que você diz por usar o próprio rank para entrada? Montar carteira por rank e ficar comprado sempre?

      Abraços!

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